Presidente do ICMBio diz que denúncias de abusos na Resex Chico Mendes serão apuradas
Em audiência da CPI das ONGs, presidente do ICMBio nega uso de armamento pesado por agentes do instituto - Foto: Agência Senado
Em depoimento à CPI das Ongs, nesta terça-feira (31), o presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Mauro Oliveira Pires, disse que as denúncias de excessos na abordagem dos agentes do ICMBio contra moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre, serão apuradas, mas negou que relatos de excesso policial com fuzis se refiram a agentes do órgão.
O senador Plínio Valério (PSDB-AM), que preside o colegiado, apresentou vídeos em que moradores da reserva acusam agentes governamentais fortemente armados de depredarem suas residências. Também houve denúncias contra o ICMBio de privá-los de criação de vacas e de dificultar abertura de novas escolas. Segundo Plínio, a necessidade de planejamento prévio para as famílias explorarem os recursos da floresta prejudica os moradores. Na sua avaliação, o instituto se preocupa mais com as florestas do que os seres humanos.
“A gente só fala da mão [do Estado] que pune (…), a gente não tem a mão que (…) traz a solução. Pode tudo [nas reservas extrativistas], desde que o ICMBio aprove. A família tem que ter plano de manejo… Imagina, o seringueiro que ganha R$ 3 por quilo e colhe, no máximo, cinco quilos por dia. Se não tiver a infelicidade de adoecer (…) aí ele vai poder contratar alguém para fazer seu plano? Mas o desmatamento tem mais atenção…”
Segundo Mauro Pires, os agentes do ICMBio não usam armas de grande porte como as apresentadas nos vídeos. Ele também atribuiu o aumento da fiscalização nos últimos anos na reserva Chico Mendes ao crescimento do desmatamento.
“Dentro do ICMBio não possuímos armamentos pesados. Isso não acontece. Em atividades de fiscalização, a depender das circunstâncias, para evitar situações de conflito, os órgãos de segurança também participam: ora a PF [Polícia Federal], ora a polícia do estado, ora a PRF [Polícia Rodoviária Federal]. Aí sim eles possuem o armamento. O ICMBio possui diferentes instâncias de governança para coibir excessos”, afirmou.
“Temos a auditoria, temos a corregedoria (…) . Em havendo algum abuso, creio que isso pode ser resolvido (…). O problema é que o desmatamento cresceu vertiginosamente nos últimos anos (…). O governador [do Acre] recentemente assinou decreto [11.271, de 2023] estabelecendo emergências ambientais nos municípios do Acre — disse Mauro, também afirmou que o ICMBio fará vistoria na reserva em novembro, no processo de construção da nova escola”, acrescentou.
O senador Jaime Bagattoli (PL-RO) questionou a eficácia da atuação do ICMBio em atender as necessidades de subsistência das famílias nas reservas.
“O senhor acredita que o seringueiro, caminhando oito quilômetros, tenha condições de sobreviver do extrativismo, recebendo 30 ou 40 reais por dia? Isso é um trabalho digno? O senhor tem a relação dessas famílias que estão lá, quantas recebem Bolsa Família? Do jeito que a gente viu a situação lá na Reserva Chico Mendes, se fosse uma empresa da iniciativa privada que estivesse administrando aquilo, pode ter certeza que o administrador sairia algemado.”
Indicação
Os critérios para escolha do presidente do ICMBio foram questionados por senadores, que apontaram conflito de interesses. O senador Marcio Bittar (União-AC), relator no colegiado, apontou o envolvimento de Mauro e das pessoas que indicaram seu nome à presidência do ICMBio com ONGs ambientalistas.
Em resposta, Pires explicou que a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, formou comitê para indicar três nomes de candidatos à direção do órgão. Ele afirmou que a decisão pelo seu nome foi influenciada por sua carreira como servidor concursado no ICMBio desde 2009. Mas, para Bittar, a participação de Mauro como sócio da empresa Canumã (quando licenciado do ICMBio), que realizava consultoria a ONGs, indicaria uma escolha enviesada do comitê formado por Marina.
Para Bittar, há trocas frequentes entre gestores públicos de órgãos ambientais e dirigentes de ONGs financiadas com recursos estrangeiros, que podem levar à influência de outros países na política ambiental brasileira.
“É um clube de amigos. Você acha que esse clube de amigos vai indicar alguém que discorde que a reserva extrativista não tenha um grau de autonomia maior do que tem? A agenda está fechada… Isso é permitir que forças externas se apossem do governo brasileiro”, — disse Bittar
Mauro lembrou que o apoio e cooperação do ICMBio com ONGs é previsto na lei que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985, de 2000).
Denúncia à PGR
Também nesta terça-feira (31), o presidente da CPI das ONGs, senador Plínio Valério (PSDB-AM) e integrantes da comissão entregaram denúncias de moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes contra agentes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) à procuradora-geral da República interina, Elizeta Ramos. As acusações contra funcionários do órgão responsável pela fiscalização da reserva vão desde a destruição de uma ponte e o impedimento de construção de uma escola, até a prática de violência física e ameaça de morte.
ICMBio
O instituto é uma autarquia federal criada em 2007 para gerir as unidades de conservação federais no país. Essas unidades podem ser de uso sustentável, em que se busca harmonizar o uso dos recursos naturais e a proteção da natureza, como é o caso das reservas extrativistas e das florestas nacionais. Segundo dados do órgão, mais de 200 mil famílias estão cadastradas nesse tipo de local. Mas também existem unidades de conservação de proteção integral, em que o objetivo é evitar a interferência humana.
As unidades de conservação somam 18% do território brasileiro e possuem 280 conselhos, que são órgãos de participação social deliberativos ou gestores que auxiliam o administrador da unidade de conservação.
Fonte: Ac24horas